Queridos leitores,
Boa noite! O post de hoje é sobre Óxido Nítrico e sua relação com a Hipertensão.
O óxido nítrico (NO – nitric oxide) é uma molécula gasosa simples presente na atmosfera em pequenas quantidades. No entanto, é altamente tóxica devido à sua considerável reatividade química por possuir um radical livre. Essa pequena molécula, talvez a menor produzida pelos mamíferos, assume papéis fundamentais na manutenção da vida atuando como mensageira celular, como desencadeadora de processos celulares e até como toxina para agentes infecciosos que possam estar presentes no organismo. O NO pode, entretanto, ser prejudicial ao organismo se presente na circulação em altas doses.
O NO é sintetizado por diversas células do corpo humano. A formação do NO se dá pela transformação de L-arginina, um aminoácido essencial, em um intermediário na presença de NADPH e cálcio. Esse intermediário, na presença de O2 e mais NADPH, é transformado em NO e L-citrulina.
Para que a síntese ocorra, é necessária a presença de enzimas conhecidas como NO sintetases (NOS). Há, no organismo, três enzimas que catalisam a reação de formação do óxido nítrico sendo duas delas constitutivas, que produzem NO constantemente e em pequenas quantidades, e uma induzível, que produz NO sob estímulos especiais e em maiores quantidades. Elas recebem as siglas de cNOS e iNOS, respectivamente. As cNOS são encontradas no cérebro (nNOS) e no endotélio (eNOS) enquanto a iNOS é comumente encontrada em uma grande variedade de células.
As enzimas, que também podem ser chamadas de isoenzimas, podem ser caracterizadas pela sua dependência do cálcio para a produção do NO. As cNOS dependem de uma concentração mínima de cálcio no meio intracelular para que possam produzir NO e, quando essa concentração diminui, a síntese é interrompida. Já a iNOS depende de uma concentração mínima de cálcio no meio intracelular apenas para a ativação da enzima de forma que se a concentração do cálcio diminuir após a ativação da enzima, a síntese continuará por um determinado intervalo de tempo. Assim, as cNOS são cálcio-dependentes enquanto a iNOS é cálcio-independente.
O NO pode ser produzido em pequenas quantidades por cNOS, necessária para o equilíbrio do organismo, ou em grandes quantidades por iNOS, importante na defesa do corpo humano contra invasores celulares.
O NO produzido pela nNOS em pequenas quantidades funciona como neurotransmissor nos sistemas nervosos central e periférico. Já o NO produzido pela iNOS é uma eficaz citotoxina e é produzido em maiores quantidades apenas quando da presença de estímulos como o de agentes infecciosos. Por produzir NO por longos períodos de tempo, a iNOS está envolvida em processos patológicos e pode ser prejudicial ao organismo por ser capaz de produzir NO em grandes quantidades, atingindo concentrações tóxicas até para a própria célula. A tabela abaixo exemplifica os casos em que o NO atua como mensageiro celular ou como citotoxina.
O NO pode, ainda, ser produzido pela eNOS presentes no endotélio dos vasos sanguíneos. E é esse que, de fato, nos interessa aqui. O NO produzido pelas eNOS tem função vasodilatadora e no controle da adesão de células sanguíneas (leucócitos e plaquetas), participando da permeabilidade vascular. Quando produzido, o NO é rapidamente transportado do endotélio para o tecido muscular liso vascular. Assim que é transportado para dentro da célula muscular lisa do vaso sanguíneo, o NO participa da transformação de GTP em cGMP. A produção de cGMP faz que o nível de cálcio intracelular diminua ao diminuir a entrada de cálcio para a célula, inibir a liberação de cálcio do retículo endoplasmático e promover o seqüestro de cálcio do citoplasma para o retículo endoplasmático, o que implica no relaxamento dos vasos e, consequentemente, na vasodilatação. A formação de cGMP irá, também, inibir a agregação de plaquetas ao influenciar na diminuição da concentração de cálcio intracelular pois a cascata de coagulação está intimamente ligada ao cálcio.
A inativação da eNOS, então, limita a quantidade de NO produzido e resulta em um aumento do tônus vascular, em um menor relaxamento das células musculares lisas vasculares e em uma maior adesão e agregação plaquetárias ao interferir na quantidade de cálcio disponível no meio intracelular.
Estudos em laboratório indicam, ainda, que exercícios físicos estimulam a produção de NO em níveis ideais para a célula ao aumentar o fluxo sanguíneo que percorre os vasos celulares. Com o aumento do fluxo sanguíneo, há um aumento da força que o sangue exerce no endotélio, que é chamada de ‘shear-stress’ ou força de cisalhamento. Essa força de cisalhamento estimula a formação de NO pelas eNOS, o que vai culminar em uma maior vasodilatação como vimos agora pouco.
Deficiências no nível de NO ideais para o equilíbrio do corpo humano podem promover doenças do sistema cardiovascular, entre elas o aumento da pressão arterial ao prejudicar a ação natural dos vasos sanguíneos de vasodilatação e contribuir para a cascata de coagulação facilitando, assim, a formação de trombos. A alta formação de NO, entretanto, caracteriza um estado patológico ao produzir vasodilatação pronunciada e alta redução da atividade plaquetária.
Assim, há uma estreita relação entre o óxido nítrico produzido pelo nosso organismo e algumas funções vitais. Aqui, se abordou principalmente a influência desse na pressão arterial, já que este é o tema do blog. Espero que tenham gostado e que tenham aprendido com o post. Um abraço!
Referências Bibliográficas
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DEVLIN, Thomas M. Manual de Bioquímica com correlações clínicas. Editora Blücher. 2007, Tradução da 6ª edição americana.
Postado por Luísa Ferraço de Paula
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